Penha com “cabelos
brancos”
É facto. As Penhas
não vivem isoladas do meio onde estão inseridas. Acompanham o ciclo natural da
vida. A nossa está a ganhar cabelos brancos. Paulatinamente, estamos a ser invadidos pelos dois vectores que podem ser
considerados como os piores pesadelos de qualquer homem de meia-idade:
protuberâncias da felicidade, vulgo, barrigas e assinalável falta de cabelo, ou
seja, calvície. Na nossa, como noutras, é cada mais usual ver homens de barriga
e quase-carecas. É verdade que o facto de as camisolas laranja sofrerem, também
elas, o desgaste do tempo (estarem a encolher) não ajuda a disfarçar o nosso
“peito descaído”.
Contudo, nem tudo é penosamente negativo.
Os cabelos brancos, para além de charme – segundo as fãs do George Clooney --
são sinónimo de respeitabilidade, de vida preenchida. Vamos aceitar que isso
seja verdade, por que nos convém. Mas, adiante.
Num dos mais recentes jantares dos
“Arrebola”, o amigo Henrique António (ele próprio um cinquentão com entradas,
mas apenas medianamente barrigudo) soltou uma frase que teve o condão de servir
como profecia, uma daquelas ficou a ecoar nas velhinhas paredes da nossa
“casa”. «Qualquer dia, já não temos cá ninguém! Uns com problemas de estômago,
outros de fígado, outros simplesmente velhos deixarão de comparecer às nossas
iniciativas (...)».
Custou a engolir o
dito do amigo Henrique, porém, se analisarmos, a frio, constatamos que, de
facto, já não caminhamos para jovens. Não há nenhum membro (activo) que tenha
menos de 30; os magros e esbeltos vão escasseando, as malfadadas entradas já
invadiram a maior parte dos coros cabeludos de todos nós; “ai” e “ui” é o que
mais se ouve nos períodos do pós Festa. A cada ano que passa, vai-se perdendo o
fulgor de outrora; as noitadas da Festa custam cada vez mais a recuperar;
poucos são aqueles que se aventuram nas
garraiadas; e são menos ainda os que conseguem ver o sol raiar num dos dias de
festividade. “É pá, ontem é que foi! Saí de lá tardíssimo... às 2 da manhã...”,
disse um amigo no ano passado.
As nossas
esperanças, os “Arrebolinhas” (filhos e sobrinhos de membros da Penha), e bem,
seguiram o seu caminho, autonomizaram-se, largaram as calças dos pais. Contudo,
hipotecaram o nosso futuro, pois somos, agora, uma Penha que caminha a passos largos
para a terceira idade, que não tem sucessores.
Para evitar males maiores, o meu filho, não
digo o nome nem a idade, vai já receber a sua camisola laranja, não vá ele
próprio lembrar-se de, quando for um homem feito, criar uma nova penha e largar
a do pai às ervas daninhas – vai ter liberdade para escolher o partido que
quiser, o clube, etc., mas só lhe vou fazer uma exigência: que seja um Arrebola
de corpo e alma.
Por isso, só nos
resta um caminho: continuar a procriar que nem desalmados e esperar que a
Senhora da Paz ilumine a vida dos nossos rebentos e que, acima de tudo, lhe
bata no coração para não deixarem morrer o sítio onde os seus pais foram tão
felizes nos seus dias áureos de juventude: a Penha “Os Arrebola Kaixotes”.
Saudações
Raianas